Um estudo liderado pela médica infectologista Cristiana Toscano, professora e pesquisadora do Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública (IPTSP), da Universidade Federal de Goiás (UFG), focou no resultado das medidas de isolamento social implantadas no Brasil com o objetivo de impedir o avanço do Sars-CoV-2, o coronavírus, que provoca a Covid-19. Estudo foi publicado em julho numa das mais importantes revistas do mundo sobre políticas de saúde, a Health Affairs. 

As intervenções de distanciamento social, que já vinham sendo adotadas em países onde os casos de Covid-19 chegaram primeiro, eram as únicas medidas disponíveis para a contenção da pandemia antes da oferta de vacinas. Recomendadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS), foram duramente criticadas em função do ônus econômico, social e educacional delas resultantes. Quando foi constatado o primeiro caso em solo brasileiro, em fevereiro de 2020, e autoridades do País também optaram pelas restrições.

Ao longo do tempo, os estados brasileiros flexibilizaram e restringiram as medidas, dependendo da situação epidemiológica da Covid-19. O grupo de pesquisadores de instituições brasileiras e americanas, coordenado pela professora doutora Cristiana Toscano, identificou a oportunidade para avaliar o impacto dessas medidas, assim como para verificar o comportamento do coronavírus, sua disseminação e sua relação com intervenções adotadas.

O estudo avaliou os efeitos individuais e combinados do conjunto de medidas sanitárias restritivas no País como um todo. Entre 1º de março a 24 de dezembro de 2020, pesquisadores coletaram dados de boletins epidemiológicos de 11 estados (Goiás, Amazonas, Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais, Pernambuco, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo) além do Distrito Federal. Foram analisadas sete medidas não farmacológicas: restrições de eventos, fechamento de escolas, fechamento de comércio não essencial, fechamento de shoppings, bares e restaurantes; fechamento da indústria não essencial; transporte público e o uso obrigatório de máscaras faciais.

Cálculo 

Os autores conseguiram estimar os efeitos independentes de cada uma das intervenções por um longo período de tempo, ao contrário de estudos anteriores que identificaram resultados do conjunto de medidas, em localidades específicas ou em períodos mais curtos de tempo. O trabalho, capitaneado pela docente da UFG, revelou que, no Brasil, duas das medidas se mostraram mais eficientes – restrição de eventos e uso de máscaras. Com o impedimento de eventos públicos, a taxa de crescimento dos casos de Covid-19 caiu o equivalente a 23%. 

No início da pandemia, a taxa de crescimento estava descontrolada, com uma média de 1,30 antes das intervenções. O efeito combinado de ambas as medidas, de acordo com os autores, diminuiu para quase 1, nível que para os especialistas indica que há uma estabilização, sem aumento de casos. 

O que os pesquisadores descobriram é que não é necessário usar todas as intervenções não farmacológicas em seu nível mais estrito durante todo o período da pandemia. O estudo, na visão dos autores, é importante para que os gestores de saúde de todos os países tomem decisões em casos de emergência de saúde pública semelhantes. Ele mostra que medidas seletivas podem minimizar os impactos econômicos e sociais em países como o Brasil, com muitos trabalhadores na informalidade e estrutura educacional precária, em especial para o ensino a distância.

Equipe 

Além de Cristiana Toscano, reconhecida por ser a única brasileira a integrar o Grupo de Trabalho de Vacinas para Covid-19 do Grupo Estratégico Internacional de Experts em Vacina e Vacinação (Sage) da Organização Mundial da Saúde (OMS), sua colega no IPTSP, a professora doutora Lara Lívia Santos da Silva, também integrou o grupo. Ainda assinam o estudo, Rodrigo Fracalossi de Moraes, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea); Paula M. Luz, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz); Louise B. Russell, da University of Pennsylvania (Philadelphia-EUA) e Risha Gidwani, da Rand Corporation (Santa Monica- EUA).

Pesquisadora Cristiana Toscano fala sobre resultados de estudo 

O que o estudo apresenta de novo? 

A novidade é que foi o primeiro estudo que conseguiu demonstrar o impacto individual e/ou combinado considerando as sete medidas elencadas e reforçar a importância de cada uma em particular. Isso é muito importante porque, à medida que a pandemia foi evoluindo, fomos vendo o impacto não só de saúde, mas econômico, educacional e de saúde mental em razão das medidas restritivas de isolamento social. Com esse trabalho, determinamos o que dá para flexibilizar em cada momento. 

Alguma grande surpresa? 

O estudo corrobora o que, intuitivamente, a gente já tinha observado na pandemia, de que o uso de máscara e a restrição de eventos com aglomeração de pessoas eram as medidas mais importantes para a contenção da transmissão viral. Reiterando o que se falava desde o início, de que as escolas deveriam ser as últimas a fechar, de fato a gente mostra que fechar escolas isoladamente não teve efeito importante para reduzir a transmissão do vírus na comunidade ao longo do ano.

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*com informações de O Popular