O período que antecede o segundo turno das eleições de 2022, em um cenário de disputa para a presidência da República entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o atual chefe do Executivo, Jair Bolsonaro (PL), tem gerado estresse e ansiedade aos eleitores.

Isso porque, por representarem ideais opostos, a disputa acirrou a polarização entre a população brasileira, já presente desde as últimas eleições presidenciais, em 2018. Assim, cada vez mais familiares e amigos têm brigado e desfeito relações por discordância política.

Neste cenário, metade do eleitorado, 49%, afirma ter deixado de conversar sobre política com amigos e familiares nos últimos meses, para evitar discussões, afirma pesquisa recente do Datafolha. 

Essas situações, no entanto, afetam a saúde mental da população. O psicólogo clínico Felipe Rodrigues de Brito conta que foi possível perceber o impacto dentro de seu consultório. “Quanto mais próximo do dia de votação, aumenta os relatos de taquicardia, dor de cabeça, desconforto abdominal e alteração no sono e no apetite”, conta.

Felipe ressalta que apesar do momento estar influenciando no dia a dia de toda a população, alguns grupos estão mais aflitos. “Tenho notado que alguns grupos em especial, como os LGBTQIA+, negros e pessoas em situações de vulnerabilidade social, têm mais queixa de stress e ansiedade nesse período”.

Se fora do momento eleitoral essas parcelas da população já são os principais alvos de violência – conforme o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, os crimes de racismo e homofobia cresceram exponencialmente após 2018 – no pré-segundo turno o receio em sair às ruas e tornar pública a opinião política ficou ainda maior. Diariamente, são noticiadas cenas de violência política, como agressões e assassinatos.

No dia 1º de setembro, por exemplo, um policial militar atirou em um fiel dentro de igreja evangélica em Goiânia. O PM era apoiador de Jair Bolsonaro e Davi, que foi assassinato, contestava o líder religioso da igreja por induzir os fiéis a votarem no atual presidente.

Quando a divergência política ultrapassa o campo da discussão e se torna agressão física ou verbal, Felipe salienta que, caso ocorra entre pessoas próximas, as relações não precisam, necessariamente, ser recuperadas após o período eleitoral. 

“A pessoa deve ponderar o quão bem ela irá ficar ao retomar a relação e o quanto a desavença a afetou. Analisar como o amigo ou familiar se portou em outras ocasiões. Muitas vezes, retomar pode significar colocar em conflito os valores que acreditamos. Para o bem-estar cortar algumas relações pode ser importante”, detalha o psicólogo.

No entanto, se após analisar a relação, concluir que ainda há possibilidade de retorno, é importante dialogar. “O melhor caminho é chamar para conversar e expor os pontos que foram sensíveis. Se a relação for importante para ambos, é esperado que o outro acolha”, afirma Felipe Rodrigues de Brito.

Apesar disso, a existência das diferentes opiniões é algo saudável e fundamental não apenas para o funcionamento da democracia, mas também para o equilíbrio da saúde mental.

A psicóloga e professora Layza Castelo Branco, pontou ao Diário do Nordeste, medidas diretas para evitar o estresse e a ansiedade. São elas:

  • Distanciar-se de fake news, “que têm o objetivo de nos desorganizar mentalmente”;
  • Evitar entrar em discussões pelas redes sociais, “que não trazem reflexões pertinentes”;
  • Tentar manter sonhos, metas e desejos, apesar do momento político;
  • Pensar no coletivo.

Felipe frisa que, apesar de ser um momento difícil, a tendência é que as sensações geradas por ele passem após o resultado das eleições. “Após o término desse período eleitoral as coisas tendem a voltar à normalidade, gerando alívio. No entanto, se o estresse e a ansiedade permanecerem é importante estarem buscando auxílio profissional”.

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