De 2000 a 2020 Goiás perdeu 31.168 km² de vegetação nativa, conforme a pesquisa Contas Econômicas Ambientais da Terra, do IBGE. A área equivale a 43 vezes o tamanho de Goiânia. O estado foi a quarta unidade da federação com o maior volume no indicador no Brasil. 

A perda de vegetação nativa ocorre em um cenário de aumento das áreas em uso pela agricultura e pela pecuária. Cada uma delas cresceu 21.375 km² e 17.976 km², respectivamente no período analisado. 

Ao fim de 2020, Goiás mantinha menos de um terço do território com vegetação nativa, equivalente a 110.529 km². A vegetação recebe duas classificações por parte do IBGE: florestal e campestre. Na primeira a redução foi de 22.225 km² na primeira formação e 8.913 km² na segunda (veja quadro). O instituto não utiliza a descrição dos biomas. 

Questionado, o IBGE explicou que o principal bioma de vegetação campestre em Goiás é o Cerrado. 

A descrição campestre inclui diferentes categorias de vegetação diversas da florestal. “Ou seja aquelas que se caracterizam por um estrato predominantemente arbustivo, esparsamente distribuído sobre um estrato gramíneo-lenhoso. Incluem- se nessa categoria Savanas, Estepes, Savanas-Estépicas, Formações Pioneiras e Refúgios Ecológicos”, detalhou o IBGE em nota. 

Embora esta seja a primeira vez que a pesquisa Contas Econômicas Ambientais da Terra: Contabilidade Física seja divulgada, estes dados já eram acompanhados pelo instituto. Ela foi baseada no relatório Monitoramento da Cobertura e Uso da Terra do Brasil, também do IBGE, e que completou duas décadas em 2020. Ele é apresentado uma vez por ano. 

Coordenador Institucional do Instituto para o Fortalecimento da Agropecuária de Goiás (Ifag), Leonardo Machado afirma que a redução na área com cobertura nativa e a expansão da agricultura e pastagem com manejo ocorreram dentro do que é permitido legalmente. 

Ele acrescenta que a mudança ocorreu simultaneamente a um incremento significativo na produtividade do campo. “De 2000 a 2020 a produção de grãos passou de 8,6 milhões de toneladas para 27,3 milhões de toneladas, ela mais que triplicou”, detalha. O coordenador do Ifag também afirma que no mesmo período houve incremento na produtividade da pecuária goiana. 

Sobre o avanço da área para a agricultura, Machado explica que isto se deve, pelo menos em parte, à conversão de terras que eram de pastagens. A agricultura pode representar mais oportunidades econômicas para o estado e o País (leia mais abaixo). 

Este segundo ciclo de mudança no uso da terra, diz Machado, tem forte presença, além de Goiás, nos estado do Tocantins, Pará e Mato Grosso. No território goiano o gado tem perdido espaço para o plantio nas regiões do Vale do Araguaia, Sul, Sudeste e Entorno do Distrito Federal principalmente. 

Machado avalia que a tendência é de haver cada vez menos degradação ambiental. 

A análise dele encontra respaldo nos dados de desmatamento do Prodes Cerrrado, iniciativa de monitoramento do indicador desenvolvida pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Nos últimos anos, a taxa de perda de vegetação nativa em Goiás circulou em torno de 700 km² por ano, abaixo do do verificado no início dos anos 2000. 

Impacto 

As mudanças nas condições ambientais e climáticas, que estão diretamente ligadas, têm impacto direto na produção e qualidade de vida da população. Pesquisas em Goiás têm apontado a redução nas chuvas, aumento da temperatura média e das ondas de calor. 

Embora os estudos possam divergir em valores, todos caminham na mesma direção. No Cerrado como um todo, a crise climática teria provocado um incremento de 2,5°C na temperatura desde a era pré-industrial. Relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (ICC, na sigla em inglês), divulgado no ano passado, indicou aumento médio da temperatura global em 1,07°C. 

O documento do ICC também sinalizou que para o centro-oeste do Brasil, considerando o cenário mais otimista, a temperatura avançará 2°C até 2040 e 2,4°C nos intervalos 2041-2060 e 2081-2100. 

O centro-oeste do País está inserido na região denominada Monções da América do Sul, para onde também é assinalada uma menor confiança a redução no volume das precipitações. O atraso no início das chuvas também tende a se tornar maior e mais frequente, resultado das estiagens prolongadas. Isto pode inviabilizar algumas safras. 

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*com informações de O Popular