Em live, Bolsonaro dá declarações incorretas e insinua que a vacina não protege contra a covid-19
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) deu declarações incorretas na live de hoje à noite para levantar desconfiança sobre as vacinas contra a covid-19. Bolsonaro tirou de contexto o caso do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, que foi infectado mesmo depois de vacinado, para lançar dúvidas especificamente em relação à CoronaVac — que como todos os outros imunizantes usados no Brasil é eficaz, foi aprovado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e reduz os riscos de casos graves ou morte decorrente da doença.
Bolsonaro também se valeu de alegações falsas para criticar medidas de isolamento social que serviram para conter o avanço da pandemia dentro e fora do Brasil. Veja o que o UOL Confere checou:
“Está vendo agora o ministro Queiroga. Tomou as duas doses da CoronaVac e está infectado. Vivia de máscara e está infectado.”.
A declaração do presidente está SEM CONTEXTO e serve para insinuar que a vacina não protegeria contra a covid-19. Queiroga de fato tomou a CoronaVac e mencionou isso na live da semana passada, quando chamou a vacina de “aquela de vírus inativado”, em referência à tecnologia utilizada pelo imunizante.
No entanto, o UOL já publicou diversas reportagens e checagens explicando que mesmo a vacina não impede a possibilidade de se contrair o vírus, mas sim reduz a possibilidade de hospitalização e morte pela doença. Também já foi divulgado, mais de uma vez, que as máscaras ajudam, sim, a controlar a pandemia e reduzem as chances de infecção.
“Muita gente que entende, estuda, diz que quem contraiu o vírus e se curou, obviamente, está melhor imunizado do que quem tomou vacina. Olha o meu caso e o do Queiroga. Eu sei que é um caso apenas.”.
A fala do presidente é INSUSTENTÁVEL, porque não há dados que amparem tal afirmação. O tema ainda está em estudo.
O que se sabe até o momento sobre o assunto contradiz Bolsonaro. O CDC, órgão sanitário dos Estados Unidos, divulgou um estudo que atesta maior proteção conferida pela vacina do que por infecção do vírus. A Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) alerta que o risco de morrer na tentativa de se obter a imunidade pelo contágio é muito maior do que para quem se imunizou por meio da vacina.
“Não é ficando de lockdown, como alguns estados aqui ficaram por meses, que o vírus vai embora.”.
A afirmação é FALSA. O lockdown foi decretado em alguns estados brasileiros durante a pandemia, como no Maranhão, no Pará e no Amapá, embora a medida não valesse para todas as cidades. Em nenhum deles, no entanto, a forma mais rígida do isolamento social durou meses.
Inúmeras pesquisas científicas apontaram que o lockdown e medidas de isolamento social, no geral, restringem a circulação do vírus, evitando assim a contaminação e, consequentemente, mortes. Análise publicada pelo VivaBem elenca uma série de artigos científicos que comprovam a eficácia da medida a partir de metodologia rigorosa.
Considera-se lockdown o bloqueio quase total de uma região, imposto pelo Estado ou pela Justiça. Nesse caso, o cidadão é impedido de circular por áreas públicas sem motivos emergenciais e muitas vezes pode haver toque de recolher. A fiscalização é feita pelo governo. Na maior parte dos estados e municípios brasileiros, não aconteceu efetivamente um lockdown, mas foram adotadas medidas que restringiram em algum nível a circulação de pessoas, como o fechamento obrigatório do comércio não essencial.
“Um dos países que mais fechou foi a Argentina, e proporcionalmente, [foi o] que mais morreu gente.”
A declaração é FALSA quando diz que a Argentina é o país com mais mortes, proporcionalmente, por covid-19. Segundo a plataforma Our World in Data, que compila dados mundiais sobre o coronavírus, a Argentina é o 10º país em que mais morreu gente proporcionalmente devido ao coronavírus, tendo perdido 2.500 vidas por milhão de habitante. A situação do Brasil, por sinal, é pior: em 8º lugar, o país perdeu mais de 2.700 vidas a cada milhão de habitante.
É VERDADEIRO, por outro lado, que a Argentina teve uma longa fase de fechamento. O país teve o período de lockdown mais longo da pandemia em 2020, mantido por 233 dias. Mas ao contrário do que indica o presidente, a adoção da medida fez com que a pandemia fosse controlada no país durante o período.
Após a abertura, no entanto, a Argentina chegou a bater recordes de mortes diárias por milhões de habitantes, levando o governo a adotar novamente o lockdown este ano. Mais uma vez, o número de casos e mortes caiu devido à restrição de circulação.
“Um dos estados que mais fechou foi São Paulo, e proporcionalmente, [foi o] que mais morreu gente.”
O próprio Ministério da Saúde, no painel de dados sobre a covid-19 no país, desmente a afirmação FALSA feita pelo presidente. Há nove estados com taxa de mortes por 100 mil habitantes (a mais usada por especialistas) superiores a São Paulo. O estado com o maior índice é o Mato Grosso (387,5 mortes para cada 100 mil habitantes), seguido de Rio de Janeiro (337,8), Rondônia (366,6), Distrito Federal (342,4), Mato Grosso do Sul (342,4), Paraná (337,8), Goiás (331,4), Amazonas (331), Roraima (328,2) e, por fim, São Paulo (324,4).
“As informações que eu tenho, extraoficiais, é que desses pouco mais de 3 milhões de jovens entre 12 e 17 anos vacinados, foram [aplicadas] qualquer vacina.”
A afirmação é FALSA, indo contra dados do próprio governo. Hoje, a única vacina permitida pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para a população entre 12 e 17 anos é a da Pfizer. De acordo com números divulgados na semana passada pelo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, dos 3,5 milhões de adolescentes vacinados no Brasil até aquele momento, 26 mil — menos de 1% do total — receberam outros imunizantes. Ou seja, a aplicação de “qualquer vacina” foi muito pequena, proporcionalmente.
“Os prefeitos e governadores vacinaram mais ou menos 3,5 milhões de crianças entre 12 e 17 anos no Brasil. Como é que eu posso entrar numa guerra dessas se tem uma liminar do Supremo Tribunal Federal dizendo que a obrigatoriedade ou não da vacina compete a governadores e prefeitos?”
A frase de Bolsonaro é DISTORCIDA, já que ele trata de forma enganosa o papel de seu próprio governo na vacinação de adolescentes. O presidente omite que o próprio Ministério da Saúde incluiu jovens entre 12 e 17 anos na campanha nacional de vacinação em julho deste ano, inclusive divulgando mais de 1 milhão de adolescentes imunizados até o mês de agosto. A pasta voltou atrás na semana passada — e recuou novamente ontem, voltando a recomendar a vacinação na faixa etária.
Enquanto isso, ao menos 16 capitais e o Distrito Federal mantiveram a vacinação do grupo, que já havia sido iniciada. Na terça (21), o ministro do STF Ricardo Lewandowski determinou que a decisão sobre a imunização na faixa etária seja de decisão de estados e municípios, desde que respeitando as normas da Anvisa. No dia seguinte, o Ministério da Saúde voltou a recomendar a imunização deste grupo.
“Essa CPI da Covid que não apurou nada, que não achou nada porque, também, não tem o que achar no meu governo.”
A afirmação é FALSA. Em sua reta final, a CPI da Covid já ouviu mais de 70 pessoas e abriu linhas de investigações importantes sobre a condução do governo federal na pandemia do coronavírus, como as suspeitas de corrupção na compra de doses da vacina Covaxin e possíveis crimes praticados pela operadora de saúde Prevent Senior.
“A inflação veio no mundo todo. O que a política do ‘fique em casa, a economia a gente vê depois’, eu era criticado, que o presidente só pensa em rico, em economia, ele é malvadão, não pensa em saúde. A conta chegou.”
A declaração é DISTORCIDA, pois apesar de a inflação ter avançado ao redor do mundo, não foi pelos motivos citados pelo presidente, como o UOL Confere já mostrou em checagens anteriores.
Segundo especialistas ouvidos pelo UOL Economia, a alta nos preços no Brasil não tem relação com as medidas de restrição para conter o coronavírus.
A aceleração da inflação no Brasil tem uma série de causas. Há uma quebra da infraestrutura logística no mundo todo, desde o início da pandemia, e isso fez com que alguns produtos essenciais ficassem escassos, o que aumentou os preços.
Além disso, o dólar subiu de maneira considerável, fazendo com que os produtos importados e insumos lá de fora necessários para produção aqui no Brasil também sofressem fortes altas.
Há também fatores que vêm surgindo nos últimos meses, como a crise hídrica, que encarece a conta de luz no país todo. Outro fator foram as ondas de frio deste inverno, que prejudicaram a produção de alimentos e fizeram com que os preços disparassem. Mais um elemento responsável por puxar a inflação foi o combustível, que teve alta porque a Petrobras optou por seguir os preços internacionais do petróleo.
“Ele [trabalhador informal] foi procurar emprego. E como para o IBGE quem não procura emprego há mais de um ano é empregado, quando esse cara começou a procurar emprego, porque não tinha mais como trabalhar na informalidade, ele entrou na lista dos desempregados. É questão de metodologia.”
A afirmação é FALSA. Segundo a metodologia usada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), quem não busca emprego há mais de um ano não é considerado ocupado; apenas deixa de constar das estatísticas da população economicamente ativa.
Durante a pandemia, muitas pessoas deixaram de buscar um trabalho, o que fez com que a taxa de desemprego apontada pelo instituto fosse contida no último ano. Mas o número absoluto de pessoas empregadas não é alterado como resultado desse movimento.
A taxa de desemprego no Brasil chegou a 14,7% no primeiro trimestre, caindo para 14,1% no segundo, mostrou o IBGE. Mesmo com a queda, isso significa que o país ainda tem 14,4 milhões de desempregados, 1,7 milhão a mais do que um ano antes. Pesquisa do Datafolha feita neste mês mostrou que 70% dos brasileiros consideram que o governo Bolsonaro tem responsabilidade pela inflação e pelo desemprego.
*Com informações de UOL