Polícia realiza operação em Jacarezinho oito meses após ação mais letal do Rio

Pouco mais de oito meses após a operação mais letal da história do Rio de Janeiro, que terminou com 28 mortos, policiais civis e militares realizam nova ação na Favela do Jacarezinho, na manhã desta quarta-feira. É a primeira fase do projeto Cidade Integrada, do Governo do Rio. Ao contrário do ano passado, não houve tiroteio na entrada dos agentes na comunidade, mas o clima é de apreensão entre os moradores, e aqueles que saíam para trabalhar mostravam receio de serem pegos no fogo cruzado.
O porta-voz da PM, major Ivan Blaz, confirmou duas prisões na região até o momento, por volta das 8h15, sendo um assaltante de banco que era procurado e um homem foi levado para a Cidade da Polícia, após prisão pela Civil. Duas motocicletas foram apreendidas.
O governador Cláudio Castro disse, por meio de seu perfil no Twitter, que a ação é um “grande processo de transformação”: “Damos início a um grande processo de transformação das comunidades do estado do Rio. Foram meses elaborando um programa que mude a vida da população levando dignidade e oportunidade. As operações de hoje são apenas o começo dessa mudança que vai muito além da segurança”.
Ele adiantou que, no próximo sábado, dará detalhes sobre o projeto, que afirmou ser permanente. “No sábado, vou detalhar os projetos que serão iniciados de maneira permanente em duas comunidades. E que servirão de modelo para outros importantes lugares que sofrem com a ausência de serviços e programas que realmente colaborem para melhorar a vida de quem mora nessas áreas”, tuitou Castro.
O projeto de ocupação do Jacarezinho ocorre no mesmo dia em que o governador Cláudio Castro vai a Brasília tentar reverter junto ao governo Bolsonaro a rejeição do ingresso do estado do Rio ao novo Plano de Recuperação Fiscal.
Desde a noite de ontem, policiais militares do Batalhão de Operações Especiais (Bope) já cercavam a comunidade para o início da ocupação. Pela manhã, às 5h30, os policiais civis começaram a deixar a Cidade da Polícia, que fica em frente à comunidade, e entrar pelas vielas. Além de dezenas de agentes, dois veículos blindados são usados, assim como outras viaturas. Pelo alto, um helicóptero dá apoio à operação.
Os moradores que saíam para trabalhar ficaram apreensivos, com muitos apertando o passo para sair do caminho dos policiais. A doméstica Ana Ribeiro se abrigou embaixo de uma marquise, com medo de um novo confronto com traficantes.
— No ano passado eu também estava saindo para o trabalho quando teve aquele tiroteio e não quero passar por isso de novo. Tomara que desta vez seja algo mais tranquilo para os moradores.
Por volta das 6h30, alguns comerciantes começaram a abrir suas lojas, com o cuidado de olhar ao redor. Alguns deles perguntavam a jornalistas e a policiais militares, posicionados na entrada da comunidade, se a situação era tranquila.
Em seu perfil no Twitter, a Polícia Militar informou que há segurança reforçada em outras comunidades próximas ao Jacarezinho: “O Governo do Estado inicia uma retomada de território na comunidade do Jacarezinho. Comunidades que estão no entorno também serão ocupadas, como a do Manguinhos, Bandeira II e Conjunto Morar Carioca. Equipes do #COE, da #CPP e de batalhões da capital estão atuando no local”.
Como antecipou ao GLOBO, em 26 de dezembro, Castro disse que o plano é “muito complexo”. No planejamento estão previstas a instalação de um batalhão de Polícia Militar, na antiga fábrica da GE, um parque esportivo e um espaço de capacitação profissional. Como parte da estratégia para a região, a nova base para a polícia faz parte da nova política de segurança, na qual é preciso repensar a distribuição do policiamento, feita há mais de 50 anos, quando a mancha criminal era diferente. A expectativa é que o batalhão do Jacarezinho desafogue a unidade do Méier, que atende muitos bairros.
No último dia 10, Castro definiu o “Cidade Integrada” como “ousado”, com a entrada de serviços públicos. Na ocasião, em que afirmou que o projeto será lançado no próximo dia 25, o governador disse:
— É um plano muito ousado. A gente está contente de poder repensar a segurança pública, que não é só uma responsabilidade do Estado, já que as fronteiras são atribuições do Governo Federal, enquanto o município cuida da ocupação do solo. Tenho certeza que não será como em outras épocas, entrar dando tiro nas pessoas. É entrada de serviços públicos.
Mais quatro comunidades devem ser incluídas
Outras quatro favelas devem ser incluídas no projeto: Cesarão, Pavão-Pavãzinho e Cantagalo, Maré e Rio das Pedras.
Um dos objetivos do novo projeto é “quebrar” barreiras, integrando bairros formais e informais, com “investimentos em infraestrutura, melhorias de espaços, garantia de acessibilidade, construção e reforma de equipamentos públicos, reforma de unidades habitacionais e ações sociais e de segurança pública, além de projetos que gerem emprego e renda”.
Quando o projeto foi anunciado, em novembro de 2021, o coronel da reserva da PM e ex-comandante das UPPs, Robson Rodrigues, elogiou a iniciativa, mas disse temer que os mesmos erros das UPPs sejam repetidos, como a falta de uma reestruturação das polícias:
— É necessário trabalhar a política de segurança com transparência. Saber quais foram os critérios e os estudos que levaram à escolha dessas comunidades, por exemplo. Quais serão os índices de governança, não só policial, que serão acompanhados para saber se houve êxito ou fracasso? A maior armadilha de um projeto como este é ter um apelo mais político que técnico.
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*Com informações de O Globo