PMs acusados por homicídio participaram em 12 ações com 13 mortes
Os quatro policiais militares (PMs) investigados pelo homicídio do servente Henrique Alves Nogueira (28), no dia 11 de agosto, estiveram envolvidos ao todo em pelo menos 12 abordagens que resultaram em 13 mortes, de janeiro de 2019 para cá.
A ação que culminou com a prisão dos quatro nesta terça-feira (16) é a primeira em que os quatro aparecem juntos, em um levantamento feito no sistema online do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJ-GO) foram encontrados pelo menos um dos quatro nomes em 12 processos que chegaram a ir para o Judiciário.
Dos 12 processos encontrados pela reportagem, metade já foi arquivada, sendo que em quatro casos por a Justiça acatar a tese de legítima defesa. Nos outros dois casos arquivados, se tratavam de inquéritos abertos pela própria PM e que foram apensados ao trabalho feito pela Polícia Civil. Em relação aos casos ainda não finalizados, quatro estão em andamento no Judiciário e dois aguardam manifestações desde os primeiros meses deste ano.
Henrique foi morto por policiais do grupo Tático do 7º Batalhão da Polícia Militar (7º BPM), em Goiânia. Na versão dos agentes envolvidos, o servente estava na garupa de uma moto à noite, no Setor Real Conquista, e reagiu com disparos contra os policiais durante uma abordagem. Isso teria sido, ainda segundo os suspeitos, por volta de 23 horas.
Entretanto, um vídeo de uma câmera de segurança na Avenida Itália, no Jardim Europa, a cerca de 15 quilômetros de onde o corpo foi achado, mostra quando três dos quatro policiais envolvidos no suposto confronto abordam Henrique e o colocam dentro da viatura, por volta de 8h25 da manhã.
A reportagem não teve acesso a investigações que ainda estejam em andamento dentro da Polícia Civil ou da própria Polícia Militar envolvendo algum destes policiais. Em apenas um dos processos que estão na Justiça aparecem juntos os três que abordaram Henrique ainda no Jardim Europa: o sargento Cleber Leandro Cardoso, de 37 anos, o cabo Guidion Ananias Galdino Bonfim, de 31, e o soldado Kilber Pedro Morais Martins, de 34.
O nome de Cleber aparece em seis processos, já o de Guidion, em sete, e o de Kilber em cinco. O do soldado Mayk da Silva Moura Sousa, de 29 anos, que não estava na abordagem, mas aparece no relatório do suposto confronto, tem seu nome citado em duas ações policiais que chegaram ao Judiciário, uma delas com duas mortes.
O caso envolvendo Henrique é o primeiro na Justiça envolvendo o nome dos quatro policiais juntos. Nos outros eles aparecem geralmente com outros policiais do 7º BPM. Como estes outros agentes não estão sendo investigados no inquérito envolvendo o servente, a reportagem definiu por não divulgar seus nomes.
As versões apresentadas pelos policiais nestes processos apresentam algumas semelhanças. Em nenhuma das 12 abordagens houve prisões ou testemunhas. Metade foi dentro de uma residência e uma em um lote, mas do lado de fora da casa. Três foram em matagais e duas ações ocorreram à noite em vias públicas.
Casos similares
Há um caso, ocorrido em fevereiro de 2021, em que a versão apresentada pelos policiais envolvidos se assemelha ao narrado pelos quatro investigados pela morte de Henrique. A pessoa morta também estava na garupa de uma moto e passou pelo Setor Real Conquista. Nesta ocorrência, apenas o soldado Kilber estava presente com outros três PMs, todos do Tático do 7º BPM.
Na versão oficial, por volta das 20h10 de uma sexta-feira, dois homens em uma moto tentaram fugir no bairro de uma abordagem feita por uma viatura do Tático na qual estava Kilber. Eles foram em direção ao Setor Cristina, mesmo rumo no qual teria ocorrido o suposto confronto com Henrique, entretanto neste caso do ano passado, os dois foram adiante. Assim como o servente, o rapaz da garupa, identificado como Pedro Henrique Peres Marques de Lima, foi morto. Em ambos os casos, os que pilotavam as motos fugiram e não foram identificados.
Outra coincidência é que tanto Henrique como Pedro Henrique teriam sido encontrados com um revólver calibre 32 com seis munições e três deflagradas e uma mochila com drogas. Entretanto, no caso de Pedro Henrique teria sido varredura na região e apreendido também um revólver calibre 38 com uma cápsula deflagrada.
O processo envolvendo a morte de Pedro Henrique foi arquivado pela Justiça no começo deste ano após decisão do juiz Jesseir Coelho de Alcântara, da 3ª Vara dos Crimes Dolosos contra a Vida e Tribunal do Júri, apontando que se tratou de um caso de legítima defesa. Isso porque tanto o delegado responsável pelas investigações como o Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO) entenderam que não houve nenhuma ilicitude por parte dos policiais.
Outro caso arquivado
O processo em que aparecem juntos os três policiais militares que abordaram Henrique no Jardim Europa também já foi arquivado por a Justiça entender que foi um caso de legítima defesa, acatando posicionamento tanto da Polícia Civil como do MP-GO. Além do trio, participaram da ação outros policiais somando duas viaturas do Tatico do 7º BPM.
O caso foi por volta de 19 horas no dia 16 de janeiro de 2021 e foi arquivado pouco mais de dois meses depois por determinação do juiz Lourival Machado da Costa.
Na versão apresentada pelos PMs, as equipes estavam atrás de um suspeito de uma série de roubos violentos na capital, identificado posteriormente como Heib Alves dos Santos Júnior, e encontraram ele e mais outro homem em um matagal no Setor Rio Formoso. Antes, foram até a casa onde o suspeito residia, mas encontraram apenas a mãe dele e uma moto com placa adulterada que teria sido usada nos crimes. Após deixarem a casa, conseguiram localizá-lo através da tornozeleira eletrônica que usava.
Segundo os policiais, os dois homens, ao perceberem a aproximação, reagiram atirando, o que teria levado as equipes a reagirem. Os policiais efetuaram 42 disparos. O outro suspeito, que não estava com o aparelho de monitoramento, conseguiu escapar e não foi identificado. Heib morreu no local.
A reportagem não conseguiu contato com a defesa dos policiais citados. O caso de Henrique segue em investigação.
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*Com informações de O Popular