“Nós estamos revoltados. A vida dele foi tirada na frente dos pais, sem nenhuma justificativa”, emociona-se o produtor musical Weslley Quirino ao falar do primo, Hermes Júnior de Oliveira, de 26 anos. Ele foi morto na noite desta terça-feira (22), em Aparecida de Goiânia, com um tiro na cabeça. A família do rapaz denuncia que os disparos foram proferidos por policiais penais durante uma abordagem em uma viatura descaracterizada. 

O velório de Hermes teve início no final da tarde desta quarta-feira (23), na casa da família, no Setor Criméia Leste, em Goiânia. O rapaz será enterrado na manhã desta quinta-feira (24), no Cemitério Memorial Parque. A família está indignada com a forma como o rapaz morreu. “Existem muitos erros na abordagem da polícia”, destaca o primo. “Eu espero que eles paguem. Não vai trazer meu filho de volta, mas eu quero justiça”, cobrou Hermes José de Oliveira, pai do jovem. 

Quando foi morto, Hermes estava junto com o pai, a mãe e um amigo dentro de um carro nas proximidades do Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia. A suspeita é de que os policiais penais tenham confundido o veículo com o de criminosos que tentaram arremessar drogas para dentro do presídio. Hermes aguardava o pai, que é motorista, guardar um caminhão na garagem de uma para irem para casa. Segundo relatos, na saída, eles foram abordados pelos policiais, que já teriam chegado atirando. 

Weslley conta que o primo era um homem tranquilo e muito ligado à família, especialmente aos pais. Hermes era casado e deixou uma filha de apenas 11 meses de idade. “A festa de aniversário dela iria acontecer neste fim de semana. Já tinham enviado convites para todo mundo. Eu vi o Hermes nascer. Sempre foi muito responsável. Trabalhava desde os 15 anos e ajudava os pais em tudo.” 

O primo do jovem relembra que no dia em que morreu, Hermes mandou uma mensagem em um grupo da família em um aplicativo de mensagens falando que tinha acordado sentindo a necessidade de fazer o bem. “Ele comprou uma cesta básica e disse que daria para a pessoa que tocasse em seu coração. Assim foi feito. Ele entregou a cesta para uma pessoa que estava no semáforo pedindo ajuda. Ele era assim. Uma pessoa boa.” 

Morte 

Weslley relata que por volta de 22 horas da quarta, o primo saiu de casa para buscar o pai no trabalho, nas imediações do Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia. “Meu tio é motorista de caminhão e estava deixando o veículo na empresa em que trabalha. Como o local é ruim para corridas por aplicativo, o Hermes foi lá junto com um amigo e a mãe dele. O local tinha guarita e os três ficaram esperando meu tio lá dentro.” 

Quando estavam saindo, o pai de Hermes avistou um veículo com os faróis com luz alta. “O carro estava completamente descaracterizado. Não tinha giroflex, não tinha nada”, enfatiza. Como o lugar não é afastado e pouco iluminado, a família ficou com medo de um assalto. “Ele tirou o carro da calçada em direção ao asfalto e deu uma acelerada. Nesse momento, quatro homens saíram e atiraram.” 

O amigo de Hermes, que estava no banco do passageiro, se escondeu no assoalho do carro, mas Hermes foi alvejado na cabeça. Os pais dele, que estavam no banco traseiro, foram feridos de raspão. “Minha tia começou a gritar que eram pessoas de família. Foi quando os policiais voltaram para a viatura e saíram de lá. 

Com medo, o amigo de Hermes saiu do carro e se escondeu em um matagal. O pai e mãe do rapaz colocaram ele, já desfalecido, no banco traseiro do carro e o pai do jovem assumiu a direção do veículo. Eles foram para o Centro de Atenção Integral em Saúde (Cais) Chácara do Governador a procura de atendimento médico. “Não adiantou. Ele já estava morto. É desumano. O carro estava cheio de pedaços da cabeça do meu primo.” 

DGAP 

Em nota, a Diretoria-Geral de Administração Penitenciária (DGAP) informou que os policiais haviam interceptado “arremesso de ilícitos” por drone e que três pessoas em um carro de cor escura dispararam contra os agentes, que revidaram. Por conta disso, os servidores fizeram um patrulhamento e encontraram um “veículo com as mesmas características”, sendo que “neste momento foi realizada tentativa de abordagem em via nos fundos das Unidades prisionais, área de segurança e monitoramento da Polícia Penal, o motorista não atendeu a voz de parada e acelerou com o objetivo de evadir do local”, comunicou o órgão.

A DGAP explicou que “por supostamente tratar de um veículo conduzido por indivíduos de alta periculosidade, armados e que teriam atirado contra guarnição de policiais penais, foram realizados disparos de arma de fogo pelos policiais na tentativa de interceptação do veículo em fuga, sendo que o mesmo evadiu do local, sem ser novamente visto pelos servidores.” A diretoria destacou que imediatamente após a ocorrência, os servidores se apresentaram espontaneamente e entregaram as armas na Central de Flagrantes de Aparecida de Goiânia. Os policiais envolvidos não estão presos. 

Investigação 

A DGAP disse ainda que instaurou um “Procedimento Disciplinar Administrativo, por meio da Corregedoria da Instituição, para afastamento dos policiais penais envolvidos enquanto o caso esteja sendo apurado.” A Polícia Civil do Estado de Goiás (PC-GO) também instaurou um inquérito para apurar os fatos. O Grupo de Investigação de Homicídios (GIH), de Aparecida de Goiânia, é quem está responsável pelo caso. 

Por fim, a diretoria ressaltou que “está contribuindo com as investigações, de forma a fornecer todas as informações necessárias à Polícia Civil.” Já a Secretaria de Estado da Segurança Pública (SSP-GO) enfatizou que “todas as medidas necessárias para a justa elucidação do fato já estão sendo tomadas, tanto administrativamente, quanto criminalmente. Havendo a comprovação de qualquer dos tipos de transgressão, haverá punição com o rigor da lei.” 

O Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO) informou, em nota, que cabe ao órgão o “acompanhamento da instrução do procedimento investigativo até sua conclusão, quando os autos serão remetidos ao MP para oferecimento ou não de denúncia” e que “caso julgue necessário, o MP também poderá fazer uma apuração complementar àquela desenvolvida pela Polícia Civil”. O MP-GO ressaltou ainda que “como tem atuação nestes casos, o MP não pode antecipar posicionamentos.

*com informações de O Popular

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