Se você comprou um celular há poucos anos e o dispositivo já apresenta queda de desempenho ou incompatibilidade com aplicativos, saiba que pode ser proposital por dois motivos: a chamada “obsolescência programada” e o fim do envio de atualizações do sistema operacional por parte das fabricantes.

O primeiro caso ocorre quando o produto é desenvolvido para se tornar ultrapassado com o tempo, forçando o consumidor a trocá-lo por outro mais avançado. O segundo está diretamente ligado prazo limite que as empresas se comprometem para enviar versões novas do sistema e recursos de segurança.

Dados da Hyle Mobile, empresa de trocas de smartphones nos Estados Unidos, mostram que a média de duração de um aparelho nas mãos do consumidor por lá é de 3,32 anos. No Brasil, esse tempo é de pelo menos 2 anos e 3 meses, de acordo com a pesquisa feita pela Mobile Time/Opinion Box, de julho de 2021.

“Os smartphones desempenham hoje tarefas que antes eram realizadas por outros dispositivos, como despertadores, GPS, câmeras digitais e computadores em geral. Essa capacidade de agregar e melhorar recursos é o que torna o smartphone um objeto que possui um tempo de obsolescência muito curto e os usuários sempre querem ter acesso aos últimos recursos”, afirma Christian Mailer, engenheiro de software e mestrando em ciência da computação na UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina).

Por que a obsolescência existe?

A obsolescência programada surgiu com a crise de 1929, nos Estados Unidos, como uma das saídas para a retomada do crescimento econômico. A lógica era de que, com a depreciação planejada, os consumidores seriam induzidos a trocar produtos para manterem fábricas produzindo e assegurando empregos.

Daniel Guzzo, doutor em engenharia de produção mecânica pela Ufscar (Universidade Federal de São Carlos) e professor do Insper, explica que existem três tipos de obsolescência programada:

Subjetiva: quando o consumidor entende que o aparelho não atende mais às suas necessidades ou por status.

Objetiva: sendo caracterizada pela paralisação voluntária do funcionamento do aparelho.

Econômica: quando não faz mais sentido monetário investir no conserto.

“Há indícios de obsolescência planejada na indústria de eletrônicos, em especial porque ela depende da venda dos produtos. É uma linha tênue para entregar algo que satisfaça os desejos do cliente ao passo que ele queira comprar outro produto o mais rápido possível”, destaca Guzzo.

No Brasil, a prática é considerada abusiva por juristas e pelo CDC (Código de Defesa do Consumidor). Porém, a dificuldade de prová-la ainda mantém a questão longe de um consenso: o judiciário brasileiro já proferiu sentenças favoráveis tanto ao consumidor quanto às empresas.

Mais fatos que tornam o celular ultrapassado.

De acordo com o engenheiro Christian Mailer, um fator que influencia na vida útil dos celulares é a evolução dos seus próprios componentes, como processador, memória, câmera, sensores, entre outros que ditam a tendência de uso e de mercado.

“Se há várias inovações nesses componentes, os usuários tendem a trocar de dispositivo para melhorarem sua usabilidade e, consequentemente, os desenvolvedores de aplicativos e do próprio sistema operacional do celular vão concentrar seus esforços no hardware mais recente”, ressalta o engenheiro Christian Mailer.

“Isso acaba tornando os dispositivos mais antigos obsoletos em usabilidade e segurança, já que novas vulnerabilidades não serão corrigidas”, completa.

Os celulares também se tornam obsoletos em razão do lançamento ou atualização de softwares, que não são capazes de serem usados em smartphones mais antigos devido aos hardwares.

“A tecnologia evolui muito mais rápido, e as pessoas querem se manter atualizadas. Por exemplo, com a chegada do 5G, os brasileiros estão buscando atualizar seus smartphones para os modelos que possuem essa tecnologia”, analisa Felipe Moraes, chefe de operações da Leapfone, empresa que atua com aluguel de smartphones.

De fato, não é qualquer celular que poderá funcionar com a conectividade, conforme a a lista divulgada pela Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações).

Limite de atualizações

A Samsung oferece até quatro anos de atualização do Android para aparelhos lançados a partir de 2019. Na Xiamoi, são três. A Apple tem update válido atualmente para versões até o iPhone 6s, lançado em 2015.

Ou seja, a vida útil dos telefones têm prazos determinados. Para Moraes, seria importante que as fabricantes mantivessem as atualizações de sistema e de segurança para celulares antigos para impedir o descarte desenfreado de eletrônicos.

“Uma possível solução seria o oferecimento de planos de assinatura para atualizações, em que você poderia contratar as atualizações de segurança ou de algumas novas funcionalidades”, sugere Mailer.

“Atualmente existem alguns sistemas operacionais de celulares alternativos, mantidos por voluntários, que visam aumentar a vida do sistema dos celulares mais antigos. Porém, não é um suporte oficial da fabricante e estão sujeitos a problemas”, acrescenta.

Como fazer o telefone durar mais?

Especialistas ouvidos por Tilt apostam que uma alternativa para tornar os celulares mais duradouros seria os fabricantes pensarem os smartphones como serviços, com pontos oficiais de trocas de hardwares que pudessem acompanhar as atualizações dos softwares.

Se a bateria perdeu a vida útil ou o processador não consegue mais ter performance, os consumidores poderiam conseguir trocá-los, por exemplo, sem precisar comprar outro aparelho.

“Um dispositivo modular que possa ser customizado de acordo com as necessidades do usuário seria o ideal, pois assim, caso o usuário deseje um recurso novo, poderia trocar apenas esse componente, como por exemplo, a câmera”, afirma Mailer. “É necessário frisar que algumas limitações técnicas ainda precisam ser superadas para isso, mas é um caminho.”

*Com informações de UOL

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