O ministro André Mendonça, do Supremo Tribunal Federal (STF), pediu vista de 20 recursos que seriam analisados pela corte a partir dessa sexta-feira (12). Os inquéritos tratavam sobre fake news e os atos violentos do 7 de Setembro passado e poderiam colocar o Presidente Jair Bolsonaro em uma posição desconfortável às vésperas da eleição. O pedido do ministro ganhou tempo para o Palácio do Planalto.

André Mendonça foi uma indicação de Bolsonaro que visava agradar sua base eleitoral de evangélicos. O Presidente prometia que sua próxima indicação seria alguém “terrivelmente evangélico”. O próprio presidente já afirmou que o ministro atua como seu “freio” no STF e que “seus” ministros usam o pedido de vistas para “empatar o jogo”.

Os julgamentos faziam parte de um plano do ministro Alexandre de Moraes, que buscava o respaldo dos colegas do Supremo para assumir a presidência do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) na semana que vem com mais força perante o Poder Executivo e para inibir ataques às instituições durante a comemoração da Independência.

O presidente Jair Bolsonaro (PL) é um dos investigados no inquérito das fake news e, por isso, costuma atacar Moraes em declarações públicas e até em uma ação apresentada ao Supremo, que foi rejeitada pelo ministro Dias Toffoli.

Moraes aguardava que o tribunal referendasse suas decisões individuais nesses inquéritos e que demonstrasse que a ofensiva contra notícias falsas e ataques incentivados por Bolsonaro e por seus aliados não é isolada, mas sim uma agenda da maioria do Supremo.

Mas Mendonça interrompeu os julgamentos por meio de pedidos de vista (mais tempo para análise) logo depois de eles serem iniciados, à meia-noite.

O julgamento dos casos estava marcado para começar nesta sexta (12) e se encerrar no dia 18. Nesse período, os ministros apresentariam os seus votos no sistema virtual da corte.

Mendonça pediu vista em 10 recursos que seriam julgados no inquérito das fake news, em oito do inquérito dos atos violentos do 7 de Setembro passado, em um sobre o vazamento de dados sigilosos de investigação da PF sobre ataque ao sistema do TSE em 2018 e em um que investiga se Bolsonaro cometeu crime ao associar a vacina contra a Covid-19 à Aids.

O ministro não suspendeu apenas o julgamento que avalia a tentativa de um terceiro de ingressar como parte interessada na investigação relacionada à Aids.

No inquérito das fake news, foram colocados em análises recursos apresentados pelo empresário Luciano Hang, da deputada Bia Kicis (PL-DF), do deputado Daniel Silveira (PTB-RJ), do empresário Otávio Oscar Fakhoury e do Facebook.

Já no dos atos violentos do 7 de Setembro de 2021, foram colocados em julgamento recursos de redes sociais e do deputado federal Otoni de Paula (MDB-RJ).

Outro julgamento paralisado diz respeito ao pedido da PGR (Procuradoria-Geral da República) contra a abertura do inquérito sobre as falas de Bolsonaro que associaram vacina à Aids.
O procurador-geral, Augusto Aras, havia dito que apuração não poderia ter sido aberta a pedido do Senado Federal —o inquérito é consequência da CPI da Covid.

Caso o STF não decida pelo arquivamento, a Procuradoria já pediu que a apuração fosse conduzida pelo ministro Luís Roberto Barroso, relator de apurações oriundas da CPI relativas ao mandatário, e não por Moraes, porque o caso não teria conexão com o inquérito das fake news.

Também foi suspenso um recurso de Bolsonaro contra decisão que instaurou o inquérito sobre o vazamento dos dados sigilosos de investigação da PF sobre ataque ao sistema do TSE em 2018.
Mendonça foi o último ministro a ingressar no STF, em dezembro passado, sob indicação de Bolsonaro.

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*com informações de Folha de S Paulo