Irmãs alimentam pessoas e animais com renda de recicláveis
Oito quilômetros. Esta é a distância que as irmãs Valéria Barbosa de Souza (51), e Vanuza Barbosa de Souza (52), percorrem todos os dias para cuidar de animais abandonados e pessoas em situação de rua. Traçando um caminho solidário, as mulheres buscam melhorar a vida de todos ao redor, sem distinção.
Do marmitex aos sacos de ração, as irmãs fazem o possível para manter a vida em Goiânia alimentada. “Este é o nosso intuito, que nada passe fome na nossa cidade, adultos, crianças e animais”, afirma Valéria.
Valéria e Vanuza vivem atualmente no setor Coimbra e todas as noites vão até a Praça Tamandaré, no setor Oeste, parando em diversos pontos para encherem os potes de ração e água para os cachorros e gatos de rua.
Desde que Vanuza adoeceu há 30 anos e teve uma lesão cerebral que a impossibilitou de continuar trabalhando de carteira assinada, Valéria, que vivia na Espanha, retornou ao Brasil para cuidar da irmã e se dedicar ao que ela mais se importava em fazer: a solidariedade.
“Minha irmã é muito do bem, o que ela mais gosta é ajudar. Larguei tudo para vir cuidar dela. Por causa da lesão, ela dorme em qualquer lugar, o sono dela é muito pesado, então ela tem muitos problemas na coluna”, explica Valéria, que move um processo judicial para aposentar a irmã e garantir uma renda fixa. Solteiras e sem filhos, as duas já viviam sem o irmão e a mãe, e perderam o pai para a leucemia há três anos. Na companhia uma da outra, elas se fortalecem por meio do interesse mútuo de fazer o bem.
“Era para ser um desastre, né, tudo isso, mas a gente tenta fazer o mundo melhor”, diz Valéria. Com poucas condições financeiras para manter o trabalho, elas se sustentam com poucas doações, para elas e os animais. “Algumas pessoas ajudam com doação de ração e temos veterinárias que dão medicamento e castração, que é a forma de diminuir a população de animais abandonados na rua”, explica ela.
Mas para continuarem exercendo o voluntariado, o principal apoio delas é a reciclagem. Nos carrinhos de supermercado, elas separam garrafas PET, latas e outros materiais que pegam no caminho de volta para a casa. “Quando a gente termina de tratar da turma do setor Oeste, nós dormimos, e aí de manhã voltamos para casa. Durante o dia a gente fica catando recicláveis. Praticamente a gente não descansa, mas é recompensador ver que nenhum bichinho e pessoa passam fome”, relata Valéria.
As irmãs não medem esforços para garantir o conforto de praticamente todos os animais dos dois setores pelos quais caminham. “Nós não temos condição nenhuma para ajudar 230 mil animais abandonados de rua na cidade, mas Deus é incrível. Ele dá muita força para nós e vamos devagarzinho”, pontua Valéria. A vontade de ajudar é uma necessidade básica das duas e quando recebem algum tipo de doação para se alimentarem, pensam também nos outros.
“A gente doa comida quando vemos pessoal de rua, é uma troca de carinho. Quando ganhamos alimentos, tiramos só o que nós necessitamos e o resto damos para as outras pessoas que precisam”, acrescenta Valéria.
Risco
Mesmo com as ações beneficentes, as irmãs sofrem com alguns episódios de violência, como relata Valéria. “Nós conhecemos todos os moradores de rua no setor Oeste, mas alguns são mais agressivos e nos dão problemas. Eu e minha irmã já apanhamos. Já tivemos de ligar para a polícia ir ao local, então a gente sofre muito também para dar comida para eles, não é tão fácil assim”, desabafa.
Valéria reconhece que o trabalho que faz ao lado da irmã é bonito, mas lamenta por ser solitário. No entanto, não tem intenção de parar tão cedo. “Se a gente tivesse condições, nosso trabalho poderia ser bem maior. Meu sonho é também ajudar pessoas que estão doentes, que vêm do interior para os hospitais e não têm dinheiro para comprar comida, mas para isto a gente teria de ter uma ONG”.
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*com texto de Manoella Bittencourt e informações do O Popular