Caso Ariane Bárbara: Um ano após morte da filha, mãe relata luto diário
Um ano após a morte de Ariane Bárbara Laureano (18), que chocou a população de Goiânia, a mãe da jovem, Eliane Laureano, relata luto diário desde então. Segundo ela, ter perdido a filha, que ficou desaparecida até ser encontrada morta, em Goiânia, foi ter perdido ‘tudo o que tinha’.
“Luto para mim é todos os dias. Desde que a Ariane faleceu, minha vida parou”, diz Eliane.
Ariane Bárbara desapareceu no dia 24 de agosto de 2021. A estudante ficou sete dias desaparecida antes de ter o corpo encontrado em uma mata, no setor Jaó. No fim, a polícia concluiu que três amigos e uma adolescente planejaram a morte da menina, que seguiu uma espécie de ritual dentro do carro onde foi levada.
Eliane ainda lembra da última vez que falou com Ariane em vida, quando recebeu um áudio da filha via WhatsApp, dizendo que encontraria com amigos para lanchar e logo voltaria. Apesar desse retorno não ter acontecido, para a cabeleireira, ainda é difícil acreditar que a filha não vai mais voltar para casa.
Ela conta, inclusive, que desde que a filha desapareceu e foi encontrada morta, nunca mais entrou no quarto de Ariane.
“Não consigo [entrar]. Tem o cheiro dela. Eu sei que ela morreu, mas pra mim, ela não morreu. Parece que ela vai voltar. Não quero me desfazer do quarto, porque parece que a qualquer hora ela pode voltar”, descreve Eliane.
No entanto, a dor é diária e faz com que diariamente ela sinta falta da filha, que para ela era como uma amiga.
“Não tem um dia que não lembro dela, não tem um dia que eu não choro”, completa a mãe.
Mesmo que não tenha conseguido entrar no quarto de Ariane, as lembranças que tem da filha ainda são o que fazem com que Eliane siga em frente.
“Fazíamos tudo juntas. Cozinhávamos, eu ia nas festas que ela queria ir, a gente viajava muito”, relembra.
Além de diversos vídeos e fotos que guarda da filha e dela junto com a jovem, a cabeleireira relata também ter ganhado diversos desenhos em homenagem a filha de pessoas que lamentaram a morte da menina. Emoldurados, as ilustrações ficam na sala da casa de Eliane.
Mensagens perturbadoras e vandalismo
Apesar das constantes dores, Eliane conta ainda viver episódios de pesadelo desde que Ariane morreu. Há meses passou a receber mensagens perturbadoras através de suas redes sociais.
“Recebo mensagens dizendo para eu perdoar [os acusados da morte de Ariane]. Outros já disseram que tinham fotos dela [Ariane] morta”, explica Eliane.
Mesmo que não tenha registrado boletim de ocorrência quanto a essas mensagens, a calebeireira conta que costuma apagar as mensagens ruins que recebe e bloquear os contatos e perfis que a enviam mensagens hostis.
No entanto, a frequência que essas mensagens acontecem fez com que a mãe de Ariane desenvolvesse um grande medo de sair de casa, fazendo com que ela se isolasse e até abandonasse a terapia.
“Eu tenho pânico de sair de casa”, disse a mãe.
Não suficiente, Eliane conta que Ariane, que foi sepultada na cidade de Goiás, teve o túmulo vandalizado em fevereiro deste ano.
“Quebraram o túmulo dela, o concreto. Deixaram o caixão do lado de fora”, detalhou.
Para conseguir reparar os danos, algo que só foi possível ser feito em agosto de 2022, Eliane explica ter precisado realizar uma vaquinha virtual para arrecadar dinheiro. Para evitar que novos episódios semelhantes ocorram, ela contou que, após consertar o jazigo, não colocou a placa com o nome da filha no local.
Desaparecimento e morte
O corpo de Ariane foi encontrado pela Polícia Civil em estado avançado de decomposição na manhã de 31 de agosto de 2021, em uma mata. A Polícia Técnico-Científica informou que a identificação foi feita por meio de impressões digitais. A jovem havia desaparecido no dia 24 de agosto, após dizer para a mãe que iria se encontrar com os amigos para lanchar e que eles pagariam o lanche.
Os amigos foram identificados e continuam presos até a última atualização desta reportagem:
- Enzo Jacomini Carneiro (vulgo Freya): apontada como autora de facadas em Ariane dentro do carro;
- Jeferson Cavalcante Rodrigues: usou o próprio carro para levar o grupo no passeio e depois jogar o corpo numa mata;
- Raíssa Nunes Borges: a polícia disse que ela queria saber se era psicopata. Também é apontada como autora de facadas.
- Uma adolescente foi apreendida à época do assassinato, mas o processo corre em segredo de justiça. Por isso, a reportagem não conseguiu informações sobre depoimento e a participação dela.
A defesa de Jeferson Rodrigues disse ele sempre colaborou com a Justiça de Goiás com as investigações e que aguarda o acesso às perícias realizadas (veja nota completa ao fim da reportagem). A defesa de Enzo Jacomini não se pronunciou.
O advogado Luciano Rezende, que defende Raíssa Nunes na Justiça, também disse que aguarda a análise de extração de dados dos aparelhos apreendidos dos acusados.
No dia seguinte ao desaparecimeto, a mãe registrou um boletim de ocorrência. Após três dias sem notícias da filha, ela procurou a imprensa para pedir ajudar na divulgação do caso. No boletim, consta que a menina contou que ia para a casa dos amigos, que ficava no setor Jaó, mesmo bairro em que foi encontrada morta.
Segundo o delegado Marcos Gomes, que investigou o crime, os amigos continuaram agindo e fazendo posts nas redes sociais “como se nada tivesse acontecido” dias após o corpo ser encontrado.
De acordo com a polícia, o crime foi planejado um dia antes e seguiu uma espécie de ritual elaborado pelos amigos. O delegado Marcos Gomes explicou que eles escolheram fazer tudo dentro do carro de Jeferson Rodrigues e escolheram uma música que falava sobre homicídio para tocar durante uma conversa entre eles.
No meio da música, Jeferson, que dirigia o veículo, estalou os dedos. Esse era o sinal para que Ariane fosse morta.
O delegado contou como o grupo se organizou:
- Jeferson ficou responsável por levar o carro, forrar o porta-malas com sacos de lixo (para levar o corpo até o local onde ele seria deixado) e levou duas facas;
- Segundo o delegado, primeiro Enzo enforcou a vítima, depois ela foi esfaqueada;
- As investigações apontaram que, em seguida, o corpo foi colocado no porta-malas e deixado em uma mata – Jeferson foi flagrado caminhando pela região na noite do crime.
- Ainda de acordo com a polícia, o grupo saiu para lanchar logo após o crime e continuou convivendo normalmente, inclusive fazendo publicações em redes sociais.
Em julho deste ano, exames psicológicos feitos nos acusados descartaram descartaram o quadro de insanidade mental. Pelo contrário, os psicológos e psiquiatras da junta médica do Tribunal de Justiça de Goiás esclareceram que eles são capazes de entender os próprios atos.
Nota da defesa de Jeferson Rodrigues na íntegra
“A defesa de Jeferson Cavalcante Rodrigues informa que ele permanece em prisão preventiva, a qual considera absolutamente desnecessária e um patente constrangimento ilegal, tendo em vista sua presença no local do fato ter se dado mediante coação, além do bom convívio social e familiar que sempre manteve, o caráter excepcional dessa medida e, principalmente, o fato de que Jeferson, desde o início das investigações, colaborou fielmente com o Poder Judiciário e demais autoridades envolvidas. Tudo isso evidência a absoluta desnecessidade de manutenção da prisão cautelar. Portanto, aguarda breve reestabelecimento de sua liberdade pela Justiça.
A defesa de Jeferson aguarda ainda o acesso a perícias realizadas, mas que ainda não possuem relatório descritivo, bem como à integralidade dos dados extraídos dos celulares dos réus.”
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*Com informações de G1