O número de pessoas em situação de pobreza em Goiânia e na região metropolitana saltou de 366,6 mil, em 2020, para 538,7 mil, em 2021. O número representa um crescimento de 47%. Já o número de pessoas em situação de extrema pobreza teve um aumento de 80%. Eram 61,8 mil pessoas nesta condição em 2020, contra 111,2 mil em 2021. Os dados são do Boletim Desigualdade nas Metrópoles.

É considerado extremamente pobre o indivíduo que vive com menos de US$ 1,9 por dia, o que na cotação atual gira em torno de 290 reais por mês. Já as pessoas pobres são aquelas que vivem mais de US$ 1,9 e até US$ 5,50 por dia, ou aproximadamente 838 reais.

A porcentagem de pessoas em situação de pobreza de Goiânia em 2021 foi de 20,1%. O número é ligeiramente menor do que a média do conjunto das regiões metropolitanas brasileiras, que foi de 23,7%. Entretanto, Marcelo Gomes Ribeiro, um dos coordenadores do Boletim e pesquisador do Observatório das Metrópoles, chama a atenção para o fato de que em Goiânia o número dobrou entre 2014 e 2021, saltando de 10,2% para 20,1%. “A média do conjunto das regiões metropolitanas não teve o mesmo crescimento. O número saiu de 16% para 23,7%.”

Já entre as pessoas em situação de extrema pobreza, o crescimento de Goiânia foi parecido com o de outras metrópoles. Em 2014, elas representavam 1,6% da população de Goiânia. O número cresceu pouco mais que duas vezes e, em 2021, elas saltaram para 4,1%. Na média do conjunto das regiões metropolitanas brasileiras, o grupo representava 2,7% da população em 2014 e, em 2021, foram 6,3%. Os dados trabalhados pelo boletim levam em conta que existem 2,6 milhões de pessoas na Região Metropolitana de Goiânia, sendo que 1,5 milhão (58%) dos habitantes estão na capital.

Ribeiro, que também é professor do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional (IPPUR), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), diz que considerando o cenário geral, Goiânia e a região metropolitana da capital segue a mesma tendência da maioria das outras metrópoles brasileiras. “Tivemos um aumento no número de pessoas em situação de pobreza e, principalmente, um agravamento da desigualdade.”

Cenário agrava desigualdade social

O aumento de pessoas em situação de pobreza e pobreza extrema agrava o problema da desigualdade social. De acordo com dados do Boletim Desigualdade nas Metrópoles, em 2021, os 10% mais ricos de Goiânia e da região metropolitana ganham 13 vezes mais que os 40% mais pobres, que registraram renda domiciliar per capita média de R$ 440,20. Mesmo sendo inferior ao registrado em 2020 (R$543), o valor foi superior a média do conjunto das regiões metropolitanas brasileiras no ano passado, de R$ 396.

No sentido contrário, a média de rendimentos da capital e da região metropolitana ficou menor do que a da média do conjunto das regiões metropolitanas brasileira. Enquanto o primeiro grupo registrou R$ 1.450, o segundo registrou R$ 1.698. “O aumento da inflação afetou a todos. Entretanto, o que precisamos nos atentar é que as pessoas mais ricas tem mais estabilidade e mais chances de se recolocar no ambiente de trabalho”, explica Marcelo Gomes Ribeiro, um dos coordenadores do Boletim e pesquisador do Observatório das Metrópoles.

O vice-presidente da Central Única de Favelas de Goiás (Cufa-GO), Wanderson Carlos, diz que muitos beneficiados pela instituição são pessoas que vivem com até 400 reais. “Percebemos que o número de pessoas com esse perfil aumentou, na medida em que as doações, que foram volumosas no período mais crítico da pandemia da Covid-19, diminuíram. A verdade é que já não estamos dando conta de atender a todos que chegam até nós”, explica.

O professor do Instituto de Estudos Socioambientais (Iesa), da Universidade Federal de Goiás (UFG), Tadeu Arrais, acredita que a única maneira de mudar esse cenário é por meio do fortalecimento de programas sociais para sanar o problemas imediatos como, por exemplo, o aumento da fome, e programas de geração de emprego e combate ao endividamento da população. “Precisamos dar estrutura para essa população sair dessa condição.”

Prefeitura afirma ter programas sociais

Para combater o aumento da pobreza e da extrema pobreza, a Prefeitura de Goiânia, responsável por quase 60% da população que vive na região metropolitana, desenvolveu uma série de programas sociais de assistência à população em situação de vulnerabilidade.

Nos moldes do Auxílio Emergencial do governo federal, a capital possui o Renda Família + Mulher. Foram realizadas quatro edições, com um total de 2,2 mil cadastros aprovados. Cada beneficiada recebe seis parcelas de 300 reais, totalizando R$1,8 mil. Um investimento de R$40 milhões por parte do município.

A iniciativa é administrada pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Humano e Social (SEDHS) e a Secretaria Municipal de Políticas para as Mulheres (SMPM). As pastas informaram que mesmo se tratando de um programa emergencial, os cadastrados no Renda Família + Mulher também foram registrados no Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico).

“Assim, quem não conseguiu o benefício da Prefeitura de Goiânia pode ter acesso aos programas sociais dos governos Estadual e Federal, caso se enquadre nos critérios estabelecidos”, diz trecho da nota enviada pelas pastas. A Prefeitura também comunicou que distribuiu 32 mil cestas básicas para a população em situação de vulnerabilidade apenas em 2022 e outras 10 mil devem ser entregues nos próximos meses.

No campo da geração de empregos, o poder público municipal informou que está oferecendo mais de 7 mil cursos de capacitação de mão de obra gratuitos, em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac) e o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), sendo que 4,8 mil alunos já se formaram e outros 1,5 mil cursos estão em andamento.

O Executivo Municipal pontuou ainda que o Sine Goiânia “tem realizado busca ativa em empresas da capital e ofertado as vagas disponíveis para trabalhadores da própria região, por meio do Sine Móvel, aproximando o trabalhador de vagas próximas da sua residência”.

Além disso, a Prefeitura destacou ainda que “tem oferecido benefícios fiscais para a abertura de novas empresas em determinadas áreas da cidade, o que tem impacto no aquecimento da economia e consequentemente na abertura de novas vagas de trabalho.”

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*com informações de O Popular